domingo, 15 de outubro de 2017

É quem pode mudar o mundo


Quando eu era criança, jamais sonhei em ser professora, muito embora minha brincadeira preferida fosse dar aula às minhas bonecas.
Cresci ouvindo que ser professor era terrível. Cheios de responsabilidades, desvalorizados moralmente e financeiramente. Ninguém respeitava o professor. Quem ia querer ser professor aprendendo isso a vida toda?!
Cresci, escolhi minha graduação já sem a intenção de lecionar.
Mas não consegui escapar da profissão que me escolheu tão cedo. Porque acredito que foi isso... A profissão me escolheu.
Não por eu ser melhor que outros, ou por eu ter mais capacidades. Mas porque eu sempre quis mudar o mundo.
E ser professor é isso. É você acordar todos os dias, cansado das atitudes dos alunos, cansado do ambiente escolar maçante e desgastante; é pensar em mudar de área pois não aguenta mais a falta de interesse daqueles a quem você se dedica diariamente. É se empolgar com as aulas preparadas e chegar na escola só para descobrir que nada do que você planejou pode ser colocado em prática como você imaginou e, mesmo assim, ter que seguir em frente. É lidar com um governo que te desmoraliza perante a sociedade, te taxando de vagabundo enquanto você é o único que, deveras, se importa com as futuras gerações.
É portar o estandarte da luz da sabedoria enquanto o mundo fica nas trevas da ignorância, nessa batalha tão sofrida que é a educação desse país.
Sofremos tantos ataques justamente por isso: somos os últimos guerreiros em pé nessa cruzada contra a manipulação das mentes por parte dos governos maquiavélicos, onde os meios nada importam, mas os fins os justificam.

Sei quão dura é essa batalha. E não julgo os que caíram no trajeto, uma vez que esse ano mesmo eu já pensei diversas vezes em abandonar meu posto.

Mas lembrei da Deborah criança, e da vontade dela de mudar o mundo. E eu estou aguentando, em respeito a ela. Porque, bem no fundo, eu sei que alguma mudança eu já fiz.
Parabéns pelo nosso dia. E força. Muita força.


quarta-feira, 24 de maio de 2017

Desabafo neste Dia do Orgulho Nerd: a vez que me fizeram crer que eu era burra demais para entender Douglas Adams

Chegada essa data maravilhosinha, em que nós, nerds, podemos celebrar e espalhar nossa cultura (e sair por aí com uma toalha enrolada no pescoço), me vejo lembrando de uma situação vivida por mim, há uns dez anos (marromeno). A púbere Deborah (essa aqui que vos fala), aos 15 aninhos de idade, foi taxada como burra demais para ler e entender o humor de Douglas Adams e a trilogia (de cinco livros, risos) do Guia do Mochileiro das Galáxias.
Se não me falha a memória, o ano era 2004. Eu cursava o primeiro ano do ensino médio e tinha um namorado novo, do qual eu gostava MUITO. O rapaz era cinco anos mais velho que eu (sim, ele tinha 20 anos de idade. E, sim, deve ter alguma coisa muito ilegal nisso) e eu convidei o mancebo para a festa junina do meu colégio.
Como morávamos longe um do outro dificilmente conseguíamos nos ver sem que um ou outro enfrentasse 2h de ônibus e metrô. Normalmente era eu quem fazia o trajeto, todos os domingos, de manhã cedinho, e voltava tarde da noite para casa e escutava minha mãe brigar horrores (hoje vejo que era com toda a razão). Também era comum que eu ligasse todos os dias para ele, sem falta, e passássemos horas seguidas ao telefone, conversando ou, o mais comum, em silêncio. Não era uma relação fácil. Era meu segundo namoro, eu era muito nova e sem qualquer experiência. Ele era mais velho e vez ou outra se aproveitava e fazia origami com meu papel de trouxa.
Hoje eu sei que vivia em um relacionamento abusivo. Ele, mais velho e experiente, cheio de si e dos mil contatinhos. Pronto para jogar na minha cara que ele era bom demais, que eu tinha sorte em estar com ele.... Que meus amigos eram muito fracos, muito feios, muito burros e ignorantes. Que eu ainda era muito menina, mas que ele me mostraria coisas boas, de qualidade, que sozinha eu JAMAIS conseguiria descobrir. Eu deveria agradecer por ter a chance de ser a namorada dele.
Enfim.... Essa festa junina: foi bem chata. Ele e mais duas colegas de colégio, junto a mim, decidimos que seria melhor ir para o shopping e ver algum filme no cinema. Foi feito. Maior parte do tempo a gente se divertiu, mas vez ou outra ele soltava piadinhas sobre como eu e uma das colegas não conseguiríamos entender um filme X que estava em cartaz. O clima ainda estava agradável. Ainda...
Chegando no shopping, ficou decidido que veríamos a adaptação do Guia do Mochileiro das Galáxias (que eu não conhecia bem, até então), mas logo na fila as piadas dele começaram a irritar minhas colegas. Afinal de contas, quem é que gosta de ser chamado de burro? Quem concordaria com uma pessoa que se julga superior a você, sem conhecer todas as suas capacidades e, por se julgar superior, se acha no direito de te rebaixar?
Bem... Eu concordei.
Meu medo era tanto de brigar com ele e provocar MAIS UMA discussão que eu só me calava. Eu abaixava a cabeça e aceitava, pois não podia perde-lo. Afinal de contas, ele era muito bom. Eu não. Ele era muito inteligente. Eu não. ELE me julgou incapaz de entender Douglas Adams. Eu acreditei.
Foram alguns meses de uma relação doentia, onde me tornei totalmente dependente dele e das neuras dele. Quando a relação acabou, me vi doente, sem vontade de comer, sair de casa ou viver. A única coisa que me manteve lúcida, foi estudar. Curiosamente, no bimestre em que nos separamos, foi o bimestre em que minhas notas foram as mais altas.
Anos depois, e com mais experiência, percebo a quão burra eu fui em acatar com essa e demais ideias que ele tinha sobre mim. Poxa, ele nem me conhecia e resolveu ensinar a mim o quão superior ele era e como eu, aos 15 anos de idade, deveria viver e me comportar para ser digna dele. Ele, um cara maior de idade que só se envolvia com garotinhas, provavelmente porque elas eram mais fáceis de manipular.
Enfim...
Fiquei um bom tempo sem realmente ler O Guia pois, de fato, me sentia rebaixada e incapaz de compreendê-lo. Quando, finalmente, me dispus a ir atrás e ler todos os livros, percebi que eu realmente fui burra, mas não do jeito que ele dizia que eu era.
Fui burra por acreditar nele. Fui burra por não ter ouvido o que minhas colegas disseram naquele dia, em frente ao cinema.
Fui burra pois fiz o que fiz ao ter entrado em pânico, pensando estar sozinha sem ele.

Tadinha de mim. Se eu tivesse ignorado esse mancebo e tivesse lido O Guia do Mochileiro das Galáxias saberia, logo na capa, que eu não deveria ter entrado em pânico.


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segunda-feira, 6 de março de 2017

Sobre Logan e meu passado. (SPOILER!)

(Contém spoiler. Se você ainda não viu o filme Logan, não leia. Tem outro aviso mais pra frente, mas já deixo avisado desde já!)


Eu tinha separado esse texto para falar da minha experiência (fantástica) de ter virado a noite dançando numa balada anos 80 aqui de São Paulo, mas urge que eu fale de outro assunto.
Para tal, necessito retornar no tempo e apresentar a Deborah de 17 anos atrás.
Em 2000, eu tinha 10 anos de idade. Era uma pequena nerdzinha, fã de animes, mangás e HQ’s (sim, é possível, vai por mim). Curtia muito as séries, de qualidade questionável, que eram baseadas em jogos (Mortal Kombat, por exemplo) e estava naquela fase de me espelhar nos meus personagens preferidos. Era o começo daquela fase chatinha da adolescência, onde a gente quer se encaixar e pertencer a algum grupo. Você deve estar pensando que foi fácil, já que coisinhas nerds estão na moda e que é cool saber de cor e salteado os nomes de golpes do Goku. Mas em 2000 isso era meio complicado. Ser nerd não era legal. Desenhos e quadrinhos eram associados à infância, e aos 10 anos de idade, quando você é menina, existe uma pressão bem grande para que você vire “mocinha”.
Desenhos de luta não eram pra mocinhas. Histórias violentas não eram pra mocinhas. Super-heróis não eram pra mocinhas. E eu deveria ser uma mocinha. Mas eu não era (e seguindo a lógica, continuo não sendo).
Sempre fui ensimesmada e isso dificultava muito meu entrosamento. Além do que, na minha sala, não tinham garotas que curtissem as mesmas coisas que eu. Elas precisavam ser mocinhas. Eu que não era.
Aos 10 anos de idade, além do problema de ser mocinha, eu lidava com uma doença renal complicada. Era algo com o qual minha família e eu convivíamos desde meu nascimento e que, até então, só evoluía... Pra pior. Existia uma dúvida e uma ameaça velada ao meu bem-estar. Não era incomum que eu sumisse da escola ás vezes porque as crises de febre me acometiam, e eu ia parar no hospital. Quando voltava, era repouso por um bom tempo. Eu não podia viajar para muito longe, não podia comer uma série de coisas e nem praticar alguns esportes. Dificilmente ia dormir na casa dos colegas, ou até passar a tarde fazendo trabalhos porque as crises poderiam vir a qualquer momento. Numa fase em que você está tentando se encaixar, nada disso que descrevi era um facilitador.
Mas eu tinha meus refúgios.
Os dias que eu ficava afastada da escola eram toleráveis graças aos desenhos que passavam na tv aberta. Era bom porque eu tinha minhas revistinhas em quadrinhos e eu podia criar uma série de estórias envolvendo meus personagens preferidos. E no ano 2000 eu estava na fase X-Men.
Porque eles eram mutantes. Eles eram imperfeitos. Eles sofriam com aquelas imperfeições, que os tornavam tão especiais. Na minha cabeça de criança portadora de uma má-formação congênita, eles eram iguais a mim. Eu também era uma mutante, porque nasci diferente e lidava com essa diferença desde que me conhecia por gente.
Quando soube que teria um filme dos X-Men, com atores de verdade, eu pirei. Guardei até a reportagem do jornal que anunciava o grande feito do cinema atual, com uma série de efeitos visuais dificílimos de fazer. Era uma foto da Tempestade (diva), minha mutante preferida <3 o:p="">
Lembro que no dia da estreia, eu estava numa daquelas crises. Febre alta, dores nas costas e cheia dos antibióticos e antitérmicos. Minha mãe não achou uma boa ideia nós irmos ao cinema naquele dia, mas a expectativa era tanta que minha avó resolveu acompanhar. Lembro até do refrigerante que compramos para tomar durante o filme, e da pipoca doce com caramelo meio queimado. Quando algum personagem aparecia, eu tentava explicar para minha avó quem era, e quais os poderes. Fui à loucura quando a Tempestade embranqueceu os olhos e eletrocutou o Groxo. Saí do cinema e, no dia seguinte, estava no P.S. da Santa Casa de São Paulo.
O tempo foi passando. O segundo filme da série saiu, e eu fui com alguns colegas da escola e com um ex-namorado. Era uma fase ruim da minha vida. Além dos problemas de saúde, minha família atravessava problemas financeiros complicadíssimos, e eu vivia uma relação complexa demais para elucidar aqui.
Quando O Confronto Final estreou, eu fui ver com um grande amigo meu. Também na estreia. Cinema lotado, no Shopping Santa Cruz. Minha avó tinha falecido poucos dias antes. Foi difícil lidar.
Quando me formei no EM e ingressei na faculdade, tive meus anos de glória na nerdice. Conheci pessoas com gosto muito parecido com os meus, os filmes que eram adaptações de HQ’s e jogos pipocavam e a internet facilitou demais meu acesso ao material mais raro de encontrar por aqui. Foi a época em que eu reclamei dos filmes mal adaptados e dos enredos sem sentido. Foi a época em que perdi as esperanças de ver meus personagens preferidos retratados de uma maneira eloquente nas grandes telas. Foi quando eu desisti de ver um mutante representando aquela família que X-Men sempre mostrou para mim.
Dezessete anos depois me deparei com Logan.
Aos 27 anos de idade, hoje, me encontro em uma situação muito diferente daquela menina de 10 anos. Tenho uma saúde excelente. Diferente da época em que fui ver o segundo filme, estava cercada de pessoas que amo profundamente. Diferente daquele dia enlutado do terceiro filme, eu estava feliz.


SPOILER! SPOILER! SPOILER!
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Eu pude sentir, plenamente, todas as emoções que esse filme proporcionaria a uma fã como eu, que cresceu e acabou criando laços muito íntimos e pessoais com aquele universo. Ver, com uma ótica adulta, o que teria acontecido com o Logan e o professor Xavier, mesmo que tamanha a decadência, me fez ver que o tempo passou. Eu pude ver, finalmente, uma família de mutantes, por mais torta e desgarrada que parecesse.
Curiosamente, a mutante caçada pelos carniceiros é uma menininha, a X-23. Uma menina que, assim como a Deborah de 10 anos, não é uma mocinha. Uma menininha que desce a porrada em todo mundo. Uma menina que passou por uma série de experiências terríveis num ambiente hospitalar e que (obviamente) por mais fantasiosas que fossem, me lembraram muito os exames e tratamentos mirabolantes aos quais a comunidade médica me submeteu ao longo da minha infância/adolescência. Foi bem difícil não me ver nela; não lembrar da Deborah de 10 anos de idade que se espelhava nos mutantes fantasiosos como uma válvula de escape para uma realidade nada favorável.
Quando o professor se foi, eu vi toda a sabedoria que minha avó representou ao longo da minha vida.
Quando chega a vez do Logan, e a X-23 muda a posição da cruz para fazer um “X”, ela enterrou uma parte do meu passado. Não que isso seja ruim, porque não é. Esse meu passado sempre vai estar ali, para mim. Mesmo que eu quisesse apagá-lo, ele estaria.
Foi bom porque a menininha seguiu em frente. Mudada pelas adversidades da vida dela, mas seguiu. Foi o que eu tive que fazer.
Vi uma entrevista que o Hugh Jackman deu aqui no Brasil onde um fã disse que se despediu de um grande amigo em Logan.
Eu me despedi de um passado extremamente doloroso. Mas que me fez o que sou hoje.




quinta-feira, 14 de maio de 2015

Hoje, vou escrever apenas por escrever...

Minha cabeça anda cheia de ideias e faz tempo que preciso escrevê-las. Capaz que o frio, o alinhamento dos astros e a postura do rabo da minha gata em fricção com meu altar tenham a ver com essa vontade... Sei lá! O que sei é que muitas coisas andam me deixando atarantada.

Primeiro: é que eu vejo tanta coisa boa na escola onde leciono e, muitas vezes, me entristece saber que várias dessas coisas acabam sendo soterradas, ou deixadas de lado pelo simples fato de que os problemas são tantos que boa parte do tempo útil do pessoal que trabalha ali é destinado a resolvê-los. E quando digo problemas, quero dizer PROBLEMAS. Cara, escola pública sabe? Descaso do governo pra manter o lugar bonitinho, descaso dos alunos em cuidar do patrimônio público, descaso de alguns pais que pensam que a escola deve educar as crianças... É tanta coisa que, se eu for ficar enumerando e comentando, posso publicar um livro épico a lá Odisseia (e olha que nem entrei na questão salarial, hen!).

Pois bem. Tenho alunos ótimos ali. Tenho uma aluna que é viciada em livros. Sempre que ela termina uma tarefa, ou tem um tempinho livre na aula, tira um livro do bolso e devora, ali na sala mesmo, no meio da bagunça dos colegas. E são títulos dos mais diversos: Menino do pijama listrado, Harry Potter, Menina que roubava livros, Caçador de pipas... Acho gratificante perceber como tem pessoas dessa nova geração tão abertas a novas ideias e a esse mundo louco e maravilhoso da literatura. Ainda mais vindo de uma família pobre que não possui o hábito da leitura, pelo que soube na reunião de pais. Isso ela aprendeu na escola mesmo: gostar de ler. Engraçado que, os colegas dela, vendo a menina toda concentradinha, começaram a ir atrás de livros também. Não digo que a variedade de títulos seja impressionante, mas eles estão procurando livros e estão gostando. Aliás, descobriram recentemente os livros de Harry Potter e é pura mania na turma.

Tenho outro aluno que desenha muito bem, é fã de animes e mangás. Também é bem inteligente, e tem um costume aterrador de bombardear todos os professores com zilhões de perguntas de todos os temas possíveis: de invasões alienígenas até história japonesa, de política brasileira até Iluminati. Esses dias veio perguntar pra mim o que eu achava de ele tentar fazer uma estória original pra um mangá. Disse que pesquisou sobre autores brasileiros, editoras e que quer seguir em frente. Cara... Quando que se imagina que no meio desse caos todo que é a educação pública brasileira vão ter pessoas que vão se inspirar e se empolgar com o pouco que lhes é oferecido?

E tem outros casos! Entusiastas de guerras, especialistas em aviões, fanáticos por games que já sabem o básico de programação no ensino fundamental, galera que discute política, dentro dos seus limites, melhor do que muitos adultos e, ainda, com a cabeça bem mais aberta pra receber outras opiniões.
Fico imaginando como seria se, um dia, conseguíssemos evoluir com o ensino público a um patamar onde o que temos a passar atinja a todos os alunos, principalmente aqueles que são desmotivados e acuados nesse sistema bizarro, que cada vez mais parece visar o emburrecimento da população.

O que mais gosto nesse papo de trabalhar com educação é saber que, de alguma maneira, faço parte na formação de alguém, mesmo que minimamente.

Tenho alunos que, ao contrário dos anteriores, sofrem com inúmeros problemas. Seja em casa, com lares desequilibrados, seja com sua saúde, onde dependem do SUS e, muitas vezes, não tem o que fazer a não ser esperar. Tenho alunos com doenças graves, deficiências sérias que atrapalharam seu processo de aprendizado e que, por conta de toda lentidão do sistema e a dificuldade em achar uma vaga com especialista, chegaram até o final do ensino fundamental sem saber ler direito, ou faltou tanto ao longo da vida escolar que, agora que está fora da idade por conta de repetências por faltas, não tem mais ânimo pra seguir em frente.

E sem contar aqueles que vivem á beira de uma explosão. São os tais casos irrecuperáveis, onde não adianta chamar os pais, já que a solução deles vai ser surrar o garoto ou, ainda, ignorar os chamados e viver a vida como se o filho não existisse.

Tenho inúmeros alunos-problema. Sério. Aliás, pode-se dizer que boa parte das escolas públicas é destinada a reclamar/tentar resolver esses casos. Há uns tempos estava falando da biografia de um certo ditador, que não vêm ao caso agora, mas ao decorrer da vida deste homem, disse aos alunos (uma sala difícil, e um aluno-problema-sério) que este homem, em sua infância, sofreu demais com a pobreza e a violência com que o país tratava os pobres; que apanhava em casa, tinha muitos irmãos e começou a trabalhar muito cedo. Ficou acostumado a tratar tudo de forma truculenta e resolver seus problemas por meios nada amigáveis. Eis que o garoto, que estava quieto durante minha explicação, comenta "Nossa fessora, que nem eu esse cara aí. Parece minha vida". Os colegas começaram a rir e ele, sério, continuou a afirmar que era verdade, e narrou resumidamente sua trajetória que, aos 16 anos, poderia ser parte de um roteiro cinematográfico.

Fiquei chocada, e passei a encarar o garoto com outros olhos. Hoje, é um dos que colabora com minhas aulas, embora os demais colegas não se inspirem em seu exemplo. Mas, infelizmente, não tem mais nada que posso fazer a não ser ensinar o que devo ensinar e torcer pra que ele não seja um desses casos de jovens mortos pela polícia, pois estavam envolvidos com tráfico de drogas.

Enfim... Daí pensei em como mudar um pouco as coisas, sabe? Fazer algo diferente, mas ao mesmo tempo dentro desse meio escolar que tanto precisa de alunos como os primeiros que citei. Eles não são melhores que os demais, e não significa que todos devam ser iguais a eles.
Segundo: a verdade é que não consigo pensar em um meio de fazê-lo. Acho que, se eu colocar isso tudo pra fora, como estou fazendo agora, pode contribuir para que novas ideias venham até mim. Daí resolvi vir aqui e escrever só por escrever mesmo. Daí as ideias que eu já "mastiguei" saem e ideias novas, de novos sabores entram, e eu consigo saber qual deles eu mais gosto :)

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Dia do saco cheio

Já aviso que a postagem não tem plano de voo. 
Eu só estou puta demais, triste demais... Qualquer coisa ruim demais pra ficar quieta E pra ajudar, estou com cólicas e gripada.
Creio que boa parte de tudo isso que acomete meus pensamentos seja culpa dos hormônios que resolvem brincar com meu humor e projetar pensamentos absurdos na minha cabeça. Mas tem coisa que realmente me magoa, e a culpa não é tão hormonal. 
Sabe aquele velho papinho de mensagens (des)motivacionais da internet? "O meu erro é esperar que os outros façam por mim o que eu faria por eles". É. 
Dizem que o ano de 2014 é o ano na astrologia que vai quebrar muitos laços, e unir outros por muito tempo. Já estou com minha dose de laços quebrados há um bom tempo. E já estou de saco cheio de muita coisa na minha vida. Principalmente no que diz respeito as minhas supostas amizades. 
Sempre fui muito carente. Filha única, problemas sérios na família, doente por toda a infância, sofri bullying na escola (principalmente de uma garota mais velha bem cretina que tinha o nome parecido com um produto de limpeza), tive um início de vida amorosa extremamente conturbado... Enfim. Tudo isso fez da minha vida sentimental um belo monte de merda. Recentemente descobri uma expressão em inglês que traduz todo o meu séquito sentimental durante a adolescência, e que me persegue até hoje. Wallflower. Desconhecia essa palavra até dezembro do ano passado, quando resolvi acatar com a indicação da Milla e ver The Perks of Being a Wallflower (com a d.i.v.a. Emma Watson). Daí desabei. Vi muitas coisas da minha vida passando diante dos meus olhos. Vi que estava de saco cheio das minhas atitudes complacentes perante os descasos de muitos desses meus "amigos". Passei boa parte da minha vida sendo coadjuvante da mesma. Apenas via as coisas acontecendo. Nunca fui (ou nunca me senti) o foco de nada. Nunca. Sempre gostei das sombras do anonimato. Sempre invejei as outras pessoas que pareciam tão felizes fazendo sabe-se lá o que que elas faziam. Me enchia de ódio. Amargura. Arquitetava mil planos, ensaiava falas e situações de como agir pra sair da posição em que eu estava. Mas pensar sempre foi muito mais fácil do que agir. E tudo ia bem, mas só que na minha cabeça. Olho as fotos de turma do colégio e percebo que fui invisível. Era como se eu não existisse. Toda uma existência na escola, e não fui lembrada por uma mísera foto. Aliás, eu era tão boa em ser invisível que quando foram homenagear os alunos mais antigos do colégio (estudei lá por 13 anos) colocaram a data errada da minha matrícula na caneta que ganhei de presente. Pensei em dar o piti; o rebucetê todo armado na minha cabeça. Apenas engoli em seco e voltei pro meu lugar. Minha mãe achou absurdo, propôs ligar na secretaria da escola pra corrigir. Me fiz de indiferente e escondi a caneta. Foi pro meu mural interno da vergonha. 
O Ensino Médio não foi de todo ruim. Conheci algumas pessoas que viriam a me tirar da minha situação de espectadora, pro bem ou pro mal. Mas eu não sabia lidar com todas essas emoções, acabei metendo os pés pelas mãos, deixando que meu orgulho falasse mais alto, e quando vi: o angu já tava todo encaroçado. A menina que era uma grande amiga foi pra um lado (ambas putas da vida uma com a outra), minha suposta alma-gêmea parecia ter muito mais coisas com que se importar do que comigo e o signo extremamente solar do meu eterno companheiro de venenos me ofuscava. 
Foi na faculdade que descobri aqueles que pensei que seriam eternos. De certa forma, uma delas ainda é e permanecerá assim, até o fim da existência. Mas ainda assim eu estava me descobrindo. Vi que a vida poderia ser muito mais legal do que apenas ver tudo de longe, passiva. Criei laços de amor e amizade que ficaram marcados em mim. Criei expectativas. Descobri que aquilo era algo que valia, que rolava lutar até a morte pra defender. Eram pessoas que eu dizia com orgulho "eu mataria por você!". Daí a vida aconteceu. O tempo passou, as prioridades mudaram, e eu me vi sozinha. De todas as pessoas que riam comigo, que participavam das brincadeiras, que defendiam a tal amizade, só me restou uma, e ela está há quilômetros de distância de mim. Ironicamente, quem está mais perto se fez mais distante. Mas eu continuei na ideia de que seriam pessoas pelas quais eu mataria. Esse ano percebi que tem gente que, por mais que eu tenha amado no passado, não vale uma gota de sangue ou suor derramado. Eu poderia matar por eles, mas nenhum deles se lembraria do meu nome depois de alguns meses.
Daí resolvi mudar de atitude! Colocar em prática todas aquelas imagens ensaiadas da minha cabeça, com falar e gritos e espetáculos. Me disseram que eu era dramática demais. Mas, caralho, eu passei a vida toda me escondendo dos meus próprios dramas, e quando consigo vencer essa barreia, filho da puta vem me dizer que eu SOU dramática? 
Enfim, fiz tudo na maior classe. Até escrevi um texto aqui (a ideia era mandar na casa do infeliz, mas era "dramático demais"). Pensei que tava abafando. Mas quem leu não era quem eu queria que lesse. O cretino até curtiu a publicação sem ler. Fiquei fula.
Desde então não dei sinais da minha existência. Achei que viriam perguntar como estava, se estava bem, qual motivo de ter sumido. 
Mas, aparentemente, continuo muito boa no quesito invisibilidade. 

Sabe... É pedir demais que as pessoas se lembrem de mim? Sabe... Nem ligo de esquecerem o H no final do meu nome, só quero que saibam quem é Deborah. Mas acho que nem se eu usar meu avental da pré-escola que é bordado em vermelho com meu nome, o pessoal vai saber. E olha que não é porque sou pequena ou comum. Faço questão de aparecer. (Aliás, deve ser por isso que curto tanto coisas chamativas: roupas, cabelo, sapatos, acessórios, etc). Quero ser notada como ser humano. Mas aparentemente nem aqueles que sempre juraram amizade eterna lembram de mim. Daí fica foda pra quem acabou de me conhecer saber que eu sou né. 

Cansei. Se não fosse meu estágio probatório no estado eu dava um jeito de tirar licença de uns meses e sumir por aí. Não dá. Quem realmente se importa comigo faz isso não importando a distância. Sei que posso ir pro sul da Patagônia que, quando voltar, ainda serão meus amigos. Mas acho que tudo seria bem mais simples se eu simplesmente sumisse. De verdade. E por vontade própria. Não pela insignificância que dão pra mim em suas vidas. 

Mas foda-se. Acho que tudo isso é efeito da gripe forte ou coisa assim. Sei que vou dormir e acordar bem pior. Mas depois vou dormir de novo e levantar. O show tem que continuar. E eu vou estar lá, nas coxias, invejando a atriz principal da minha vida, que não sou eu, mas o reflexo do que eu desejo ser: alguém que não eu mesma. 

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Viva Forever

"Slipping through our fingers like the sands of time, promises made, every memory saved as reflections in my mind"

E nessa semana de recesso escolar eu tive o tempo necessário pra pensar em alguns aspectos da minha vida. Dentre eles, os fantasmas do meu passado. Sou assombrada por uma série deles, e percebi então que se não fosse o apoio dos meus amigos não teria como continuar em frente. Pude perceber também que nem todo mundo que se diz meu amigo realmente está ao meu lado nos momentos que eu mais preciso. Levando em conta que minha fase atual é a de renovação, decidi por fim deixar algumas coisas para atrás, no passado, incluindo algumas pessoas. Não que elas tenham deixado de ser importantes pra mim, ou que eu as ame menos do que antes mas... A verdade é que vivemos as consequências de nossas escolhas. Em algum momento da vida de uma pessoa ela decidiu optar por algo que acabou não me incluindo nisso. Uma relação amorosa, por exemplo. Ela poderia manter a amizade e a relação? Poderia. Mas escolheu não fazê-lo. 
Daí eu xinguei, chorei, me desesperei; "Ah não, não admito perder meu amigo!". Entrei na fase do "Preciso fazer alguma coisa" e "O que existe entre nós nunca vai acabar". Mas... A verdade é que já tinha acabado fazia tempo.  Eu (nós, né titia?) é que neguei até o ultimo momento. Meu aniversário chegou, o dia marcado pra comemoração veio, mas a pessoa não. Os parabéns mandados via mensagem não supriram o tamanho do buraco que se formou na relação, e então eu notei com quem poderia contar a partir daí. Quem sempre esteve ao meu lado. Quem, faça chuva ou faça sol, faz um tremendo esforço pra me ver, quem atura minhas crises, quem ri das piadas. Escolhi permanecer com eles, que sempre fizeram tudo por mim. Os outros... Bem... Os outros vão estar sempre no meu passado, num lugarzinho especial no coração, mas já não possuem mais espaço na minha vida. Daqui pra frente, seremos nós. Eu e minha irmã, e nada vai nos separar, nem a morte. Mesmo que uma de nós morra, a outra vai atrás, nem que seja no Inferno, nem que seja em outra vida. 
E pra você, amigo... Até mais. Não vou dizer Adeus, pois ainda tenho esperanças no seu retorno. Mas meu orgulho me impede de rastejar atrás de você por alguns minutos de atenção. Você sabe onde eu moro e onde eu trabalho. "Ouça, pequena criança. Virá um dia que você poderá dizer, não importa a dor ou a irritação, que há um jeito melhor para eu e você... Adeus meu amigo. Eu sei que você se foi, mas eu ainda sinto você aqui. Você precisa manter-se forte antes que a dor se transforme em medo. Estou tão feliz pelo que fizemos, o tempo nunca mudará isso."

E agora, é seguir em frente, titia. Temos o mundo todo pela frente, e ele é pequeno demais pra nós duas (e o Shura, porque... né?) 

Viva Forever

Obs: Eu tive um surto de Spice Girls também nessa semana. Citei dois trechos de duas letras delas, uma logo no começo é Viva Forever, e a outra é Goodbye. Curiosamente, as letras das músicas delas sempre arrumam um jeitinho de se encaixar em alguns momentos da minha vida. Vai entender!

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Carta aos meus amigos.



Minha vida não anda lá aquelas coisas. Tenho um emprego que me sustenta, mas não me faz feliz. Vou mal das pernas quando o assunto é dinheiro, e a saúde não vai bem, obrigada. Meus únicos momentos de diversão são quando durmo... As vezes me distraio lendo algum livro. Sei que no fundo não posso reclamar. Tem muita gente por aí que gostaria de ter uma vida como a minha, e que trocaria de lugar facilmente comigo, afinal, sei e tenho consciência de que não passo de uma garota mimada da classe média, que gosta de reclamar dos traumas de infância só para ter um assunto mais interessante nas raras conversas de bar.




Mas... O que faz valer a pena?




O que me faz seguir em frente é aquilo que me segue de outras vidas, suponho. É o que me dá forças, e me dá esperanças também. Aquilo que me ergue nas horas mais difíceis, o que motiva (quando está longe) e sana minhas lágrimas.

Sou filha única e sempre convivi com meus fantasmas pessoais desde cedo. Era daquelas que, nas viagens á praia, me aproximava de qualquer outra criança só pra ter um pouco de companhia, pra variar. De uns anos pra cá, por conta de decisões pessoais e de ocorridos da vida, percebi que a tendência era a solidão. Sei que acabarei sozinha... Todos acabaremos. Mas... Eu tenho certeza que se depender de vocês, meus amigos e irmãos, eu sempre terei um remédio pras minhas dores, um ombro onde chorar e um sofá confortável e quentinho onde me abrigar da vida fria e cruel.




Nos conhecemos de outras vidas, isso eu tenho certeza. A coisa mais profunda que me aconteceu em anos, e duvido que exista alguma outra que se equipare a isso. Só queria que a vida parasse de me pregar peças e de ficar levando todos vocês pra longe de mim, me convertendo ao estado de torpor que a solidão me causa.




Amo vocês mais do que tudo o que poderia amar. Amo como se fossem meus irmãos, e acho que isso é muito, uma vez que não tenho irmãos de sangue. Não sei viver sem vocês, não consigo... E por mais que eu tente, sinto que acabarei por perder totalmente minha sanidade.




Só queria ter vocês por perto. Mas... Quem ama deixa livre, não é?

E eu amo tanto vocês que, dessa vez, vou deixar meu egoísmo doentio de lado, e deixar que vivam suas vidas, onde quer que elas os levem... Mesmo que seja pra longe de mim.

Eu vou ficar aqui... Esperando... Com minha sanidade por um fio nesse meio tempo, só na esperança de que um dia possamos voltar a dar risadas e beber algo refrescante á sombra, num dia de calor.




Vou morrer de saudades, mas também vou morrer de felicidade na hora que vocês voltarem.