terça-feira, 11 de novembro de 2014

Dia do saco cheio

Já aviso que a postagem não tem plano de voo. 
Eu só estou puta demais, triste demais... Qualquer coisa ruim demais pra ficar quieta E pra ajudar, estou com cólicas e gripada.
Creio que boa parte de tudo isso que acomete meus pensamentos seja culpa dos hormônios que resolvem brincar com meu humor e projetar pensamentos absurdos na minha cabeça. Mas tem coisa que realmente me magoa, e a culpa não é tão hormonal. 
Sabe aquele velho papinho de mensagens (des)motivacionais da internet? "O meu erro é esperar que os outros façam por mim o que eu faria por eles". É. 
Dizem que o ano de 2014 é o ano na astrologia que vai quebrar muitos laços, e unir outros por muito tempo. Já estou com minha dose de laços quebrados há um bom tempo. E já estou de saco cheio de muita coisa na minha vida. Principalmente no que diz respeito as minhas supostas amizades. 
Sempre fui muito carente. Filha única, problemas sérios na família, doente por toda a infância, sofri bullying na escola (principalmente de uma garota mais velha bem cretina que tinha o nome parecido com um produto de limpeza), tive um início de vida amorosa extremamente conturbado... Enfim. Tudo isso fez da minha vida sentimental um belo monte de merda. Recentemente descobri uma expressão em inglês que traduz todo o meu séquito sentimental durante a adolescência, e que me persegue até hoje. Wallflower. Desconhecia essa palavra até dezembro do ano passado, quando resolvi acatar com a indicação da Milla e ver The Perks of Being a Wallflower (com a d.i.v.a. Emma Watson). Daí desabei. Vi muitas coisas da minha vida passando diante dos meus olhos. Vi que estava de saco cheio das minhas atitudes complacentes perante os descasos de muitos desses meus "amigos". Passei boa parte da minha vida sendo coadjuvante da mesma. Apenas via as coisas acontecendo. Nunca fui (ou nunca me senti) o foco de nada. Nunca. Sempre gostei das sombras do anonimato. Sempre invejei as outras pessoas que pareciam tão felizes fazendo sabe-se lá o que que elas faziam. Me enchia de ódio. Amargura. Arquitetava mil planos, ensaiava falas e situações de como agir pra sair da posição em que eu estava. Mas pensar sempre foi muito mais fácil do que agir. E tudo ia bem, mas só que na minha cabeça. Olho as fotos de turma do colégio e percebo que fui invisível. Era como se eu não existisse. Toda uma existência na escola, e não fui lembrada por uma mísera foto. Aliás, eu era tão boa em ser invisível que quando foram homenagear os alunos mais antigos do colégio (estudei lá por 13 anos) colocaram a data errada da minha matrícula na caneta que ganhei de presente. Pensei em dar o piti; o rebucetê todo armado na minha cabeça. Apenas engoli em seco e voltei pro meu lugar. Minha mãe achou absurdo, propôs ligar na secretaria da escola pra corrigir. Me fiz de indiferente e escondi a caneta. Foi pro meu mural interno da vergonha. 
O Ensino Médio não foi de todo ruim. Conheci algumas pessoas que viriam a me tirar da minha situação de espectadora, pro bem ou pro mal. Mas eu não sabia lidar com todas essas emoções, acabei metendo os pés pelas mãos, deixando que meu orgulho falasse mais alto, e quando vi: o angu já tava todo encaroçado. A menina que era uma grande amiga foi pra um lado (ambas putas da vida uma com a outra), minha suposta alma-gêmea parecia ter muito mais coisas com que se importar do que comigo e o signo extremamente solar do meu eterno companheiro de venenos me ofuscava. 
Foi na faculdade que descobri aqueles que pensei que seriam eternos. De certa forma, uma delas ainda é e permanecerá assim, até o fim da existência. Mas ainda assim eu estava me descobrindo. Vi que a vida poderia ser muito mais legal do que apenas ver tudo de longe, passiva. Criei laços de amor e amizade que ficaram marcados em mim. Criei expectativas. Descobri que aquilo era algo que valia, que rolava lutar até a morte pra defender. Eram pessoas que eu dizia com orgulho "eu mataria por você!". Daí a vida aconteceu. O tempo passou, as prioridades mudaram, e eu me vi sozinha. De todas as pessoas que riam comigo, que participavam das brincadeiras, que defendiam a tal amizade, só me restou uma, e ela está há quilômetros de distância de mim. Ironicamente, quem está mais perto se fez mais distante. Mas eu continuei na ideia de que seriam pessoas pelas quais eu mataria. Esse ano percebi que tem gente que, por mais que eu tenha amado no passado, não vale uma gota de sangue ou suor derramado. Eu poderia matar por eles, mas nenhum deles se lembraria do meu nome depois de alguns meses.
Daí resolvi mudar de atitude! Colocar em prática todas aquelas imagens ensaiadas da minha cabeça, com falar e gritos e espetáculos. Me disseram que eu era dramática demais. Mas, caralho, eu passei a vida toda me escondendo dos meus próprios dramas, e quando consigo vencer essa barreia, filho da puta vem me dizer que eu SOU dramática? 
Enfim, fiz tudo na maior classe. Até escrevi um texto aqui (a ideia era mandar na casa do infeliz, mas era "dramático demais"). Pensei que tava abafando. Mas quem leu não era quem eu queria que lesse. O cretino até curtiu a publicação sem ler. Fiquei fula.
Desde então não dei sinais da minha existência. Achei que viriam perguntar como estava, se estava bem, qual motivo de ter sumido. 
Mas, aparentemente, continuo muito boa no quesito invisibilidade. 

Sabe... É pedir demais que as pessoas se lembrem de mim? Sabe... Nem ligo de esquecerem o H no final do meu nome, só quero que saibam quem é Deborah. Mas acho que nem se eu usar meu avental da pré-escola que é bordado em vermelho com meu nome, o pessoal vai saber. E olha que não é porque sou pequena ou comum. Faço questão de aparecer. (Aliás, deve ser por isso que curto tanto coisas chamativas: roupas, cabelo, sapatos, acessórios, etc). Quero ser notada como ser humano. Mas aparentemente nem aqueles que sempre juraram amizade eterna lembram de mim. Daí fica foda pra quem acabou de me conhecer saber que eu sou né. 

Cansei. Se não fosse meu estágio probatório no estado eu dava um jeito de tirar licença de uns meses e sumir por aí. Não dá. Quem realmente se importa comigo faz isso não importando a distância. Sei que posso ir pro sul da Patagônia que, quando voltar, ainda serão meus amigos. Mas acho que tudo seria bem mais simples se eu simplesmente sumisse. De verdade. E por vontade própria. Não pela insignificância que dão pra mim em suas vidas. 

Mas foda-se. Acho que tudo isso é efeito da gripe forte ou coisa assim. Sei que vou dormir e acordar bem pior. Mas depois vou dormir de novo e levantar. O show tem que continuar. E eu vou estar lá, nas coxias, invejando a atriz principal da minha vida, que não sou eu, mas o reflexo do que eu desejo ser: alguém que não eu mesma.