O problema de a gente não saber se alguma de nossas relações interpessoais estão vencidas, é que acabamos por consumir um produto estragado sem saber. E quando percebemos, já estamos com um nó no estômago e um gosto amargo na boca, daqueles que impregnam no fundo da língua e anticéptico nenhum consegue tirar. A única solução é raspar... Mas isso dói.
Uma relação minha venceu recentemente. Bem... Se eu for avaliar profundamente, o produto do qual eu estava me embebedando em "amizade" já havia vencido há muito. Eu é que não percebi.
Nesses dois últimos dias vivi um turbilhão de emoções, sendo que nenhuma delas foi das mais agradáveis. Passei da indignação à mágoa, e depois da mágoa a nostalgia, para enfim me enterrar no ódio, seguido da letargia pós-dor.
Dói.
Sinto-me como um pequeno arbusto, daqueles que a gente compra nas feiras livres. Todos muito viçosos em simples vasos de barro ou cerâmica, mas que toda boa criança ou sacola gosta de arrancar um galho. A cada galho, uma fisgada. A cada fisgada, uma sensação de impotência, de indignação. E depois a solidão da recuperação... Cicatrizar o que não pode ser cicatrizado. Feridas que jamais se curam, mas que ficam ali, marcadas, como um enfeite sádico da vida.
Arrancaram mais um de meus belos e viçosos galhos, e não sei se tenho forças suficientes para vê-lo morrer, caído no chão, separado de meu tronco. Mas graças a minha forma egoísta de encarar o mundo, prefiro ver meus galinhos morrerem diante de meus olhos, do que vê-los sendo carregados, nas mãos de um moleque qualquer, que o arranca e o leva. O conserva em um copo d'água, crendo ser aquele o melhor lugar para ele.
Mais um galho foi arrancado. E agora o vejo nas mãos (justamente) de um moleque qualquer, que o leva para longe... Para dentro de um profundo copo de promessas e dúvidas.
A mim, resta o gosto amargo e a cicatriz... Algo que só o tempo vai poder tirar ou curar.
Agora, sou uma árvore quase seca. Como aquelas que a sua vizinha chata faz questão de jogar golfadas de água quente nas raízes.
Minhas raízes estão queimadas... Meus galhos arrancados, mas as poucas flores que ainda permanecem, me tornam a árvore mais bonita da cidade.
Meu galinho morreu.
Só não sabe disso ainda.